Paan Singh Tomar (2012)

Ao ver histórias como a de Paan Singh Tomar, fico em um estado de surpresa que me vem ao perceber como o mundo é repleto de pessoas vivendo de tudo. O filme é baseado em uma história real que tinha os elementos para ser simples e se perder em meio a tantas outras, como a minha e talvez a de quem esteja lendo este texto. Entretanto, alguns pequenos e inesperados desvios fizeram com que hoje possamos assistir a um filme sobre aquela vida, com Irrfan Khan como protagonista. A vida é realmente imprevisível.


Paan Singh foi um soldado do Exército indiano que adorava correr. Seu talento logo foi descoberto e ele se tornou atleta do Exército na corrida de obstáculos. Paan Singh ganhou várias medalhas e se tornou campeão nacional muitas vezes. Só que nada disso o ajuda na disputa por terras que mantém com seu primo, Bhanwar Singh (Jahangir Khan). Paan Singh pede ajuda às autoridades por todos os meios possíveis e deixa claro que sua família está sendo ameaçada de morte, mas seus apelos não são ouvidos. É neste momento que desiste de seguir as regras e forma uma gangue de rebeldes juntamente com outros familiares e amigos também ameaçados por Bhanwar Singh. A corrida se transforma e os obstáculos crescem.

Irrfan ♥
O Paan Singh construído pelo Irrfan é um homem com mentalidade tomada pelo militarismo: honra, disciplina e esforço guiam sua conduta. De início achei o personagem um pouco estranho porque parecia abobado, mas depois entendi aquele tom dado pelo Irrfan como característico da extrema simplicidade de Paan Singh. Ele e sua família não eram de trocar muitas palavras, não há nenhum grande discurso seu durante o filme (me lembrei de Vidas Secas). Paan apenas via o que tinha de ser feito e fazia do melhor modo possível, fim da história. Esta objetividade fez dele um líder respeitado, pois conseguiu conduzir bem sua gangue em direção a todos os objetivos planejados. Às vezes parece que membros das Forças Armadas desenvolvem uma "personalidade militar", com aquelas características de honra e disciplina que citei. É um modo de funcionamento que persiste até quando não está servindo em seus postos. Para azar da Justiça, Paan levou este modo de funcionamento até para sua vida de rebelde, o que justifica bastante sua eficiência.

Fora Bhanwar Singh, a esposa de Paan é a única pessoa de sua família a receber maior projeção na história. Mahi Gill fez uma esposa "turrona", mandona, daquele tipo "dura por fora e doce por dentro" que costumamos ver. Suas cenas íntimas com o marido não são repletas de palavras doces e românticas, mas fica claro que ambos se gostam. A esposa é como o marido: fala pouco e age bastante. A Mahi é uma atriz muito boa e vai a passos largos em direção à excelência. Mostrou versatilidade com esta personagem rústica.


A metáfora feita entre a corrida com obstáculos e a vida de rebelde de Paan Singh foi boa, mas discordei do personagem quando este "teve" que matar várias pessoas que traíram sua gangue. Perturbado, Paan tentava convencer a si mesmo e a nós de que não era um assassino. Com ou sem motivo, tirar a vida de outra pessoa é assassinato. E matar aldeões desarmados só enfraquece qualquer justificativa apresentada.

Dois membros da gangue se destacaram mais: o tio Matadeen (Imran Hasnee) e Gopi — interpretado por Nawazuddin Siddiqui, em quem presto muita atenção desde Kahaani (2012). Sua participação é rápida, porém brilhante e essencial para a resolução da história. Já o tio é uma figura paterna simples e sólida para a gangue. Tanto Imran quando Nawazuddin deixaram forte impressão, mesmo com o pouco tempo em cena. Bons atores sabem o que fazer, especialmente quando estão em boas histórias.


Como muitos estavam em polvorosa no Twitter na época da estreia do filme, criei algumas expectativas que Paan Singh Tomar não conseguiu suprir. Talvez eu esteja acostumada com aqueles filmes cheios de discursos e lições de moral, e este tipo de coisa me emocione mais. PST não é apenas sobre corrida, mas sobre o que a corrida significou nos vários pontos da vida daquele homem. Foi um hobby, se transformou em seu trabalho e terminou como a totalidade de sua vida — correr era sobreviver.

O filme foi dedicado a todos os atletas não-reconhecidos do esporte indiano. Nos ajuda a pensar no Brasil, que também não valoriza os atletas que engrandecem nosso nome aos olhos do mundo. É bom saber que ao menos a complicada história da vida de Paan Singh Tomar não vai se perder em alguma página esquecida da história do esporte mundial.

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